Ele precisava trabalhar de dia, e não havia possibilidade, na época, de fazer a faculdade à noite. Ainda na adolescência, na escola, Licurgo se destacava nas atividades artísticas, desenhando as capas dos cadernos de férias de seus colegas. Autodidata, nunca fez nenhum curso de pintura enquanto morava na Bahia, tendo iniciado sua carreira por puro talento, vocação e sensibilidade artística.
Suas obras foram exibidas pela primeira vez em 1973, numa exposição coletiva. Licurgo não teve patrocínio de ninguém, contando apenas com seus próprios recursos e o apoio da família, sempre presente em suas exposições. Aos 20 anos, pintou o seu primeiro quadro, “ O Forte de Santa Maria “, em Salvador. Este quadro foi mandado para São Paulo, presenteando sua prima Maria José Miranda Rego, que ele considerava “ uma de suas grandes incentivadoras “, desde o início de sua carreira.
Em junho de 1982, foi contratado pela Siemens S/A, no cargo de Auxiliar Administrativo ( função que exerceu na empresa até setembro de 1995 ). O sonho de Licurgo era morar no Rio de Janeiro, porque achava a cidade bela, glamourosa, alegre, cativante. Licurgo queria ser famoso, queria expor seus quadros em grandes galerias, do Rio, do Brasil e do mundo. Em uma de suas vindas ao Rio de Janeiro, em dezembro de 1984, para visitar sua prima Zezé ( Maria José ), ele conheceu Débora Aromatis Machado, namorada do filho de sua prima, Emanoel. Logo ficaram amigos, e ela o hospedou em sua casa, em Copacabana, para que passasse alguns dias de férias e aproveitasse as belezas que a cidade maravilhosa poderia lhe proporcionar.
Débora, sobrinha do famoso artista plástico Edy Gomes Carôllo, apresentou-lhe então seus pais, Jandyr Fontoura Machado e Yolanda Aromatis Machado. Eles simpatizaram muito com Licurgo, e com seu entusiasmo em desenvolver sua arte. Prometeram que iriam ajudá-lo no que fosse possível, pois além de amantes da arte, eram pessoas extremamente generosas. Eles tinham planos de apresentá-lo a quem consideravam “ o mestre Carôllo “, para que este, pudesse impulsionar sua carreira. Em Janeiro de 1985, menos de um mês depois deste encontro, Jandyr Fontoura Machado veio a falecer prematuramente, aos 51 anos de idade.
Licurgo, consternado com a dor da família, escrevia e telefonava regularmente, para dar apoio à sua esposa e filha. Os meses foram passando, e Yolanda disse que iria ajudá-lo conforme havia prometido, pois também era um desejo de seu marido poder realizar o sonho deste artista de carreira tão promissora. E assim o fez. Destino, livre arbítrio ou mera casualidade? Talvez de tudo um pouco.
Aliada ao seu empenho em trazer para o Rio este jovem talento, Yolanda, mesmo com seu luto e sua tristeza constantes, nunca esquecera do amigo. Um dia, em visita à Maria José, prima de Licurgo, que morava em Botafogo ( aonde reside até hoje ), Yolanda sentiu-se mal, e amparou-se na porta do elevador do seu prédio. Uma moça muito simpática, chamada Marilene, ofereceu-lhe ajuda, convidando-a a subir em seu apartamento, naquele mesmo prédio, para que tomasse um copo d’água. Ela subiu, e, depois que sentiu-se melhor, conversou com a moça. Em meio a muitos assuntos, Marilene lhe deu seu telefone, e disse que Yolanda a procurasse se precisasse de qualquer coisa. Algum tempo depois, Yolanda, tentando de todas as maneiras ver como poderia ajudar Licurgo, lembrou-se de telefonar para Marilene, a quem achara uma pessoa ‘ extremamente solidária ‘, pois havia colocado em seu apartamento uma pessoa estranha, com o único intuito de ajudar. Yolanda contou-lhe a história de Licurgo e seus sonhos, e perguntou o que ela poderia fazer neste sentido.
Marilene lhe disse que infelizmente não poderia fazer nada, mas que tinha uma grande amiga, chamada Maria José ( Zezé ), que trabalhava na Siemens do Rio de janeiro, que talvez pudesse ajudá-lo. Deu-lhe o telefone de Zezé, a quem Yolanda procurou e foi muito bem recebida. Novamente Yolanda contou a história de Licurgo, e Zezé disse que faria de tudo para ajudá-lo em sua transferência para o Rio de Janeiro, através de contatos dentro da Empresa. Yolanda e Zezé ficaram amigas, e dentro de poucos meses Zezé conseguiu a tão sonhada transferência de Licurgo para o Rio de Janeiro. Yolanda ligou para a Bahia, dando-lhe a notícia! Licurgo mal podia acreditar que seu sonho estaria prestes a se realizar. Mas ainda havia outra etapa tão difícil quanto sua transferência a ser vencida: sua estadia. Aonde Licurgo moraria, se não tinha recursos próprios para alugar uma residência? Yolanda não pensou duas vezes: convidou Licurgo para morar junto com sua família, na Rua Valparaíso, Tijuca. Com ela, moravam: sua filha Débora, o namorado de sua filha, Emanoel, primo de Licurgo, e sua tia Maria Helena das Mercês Miranda ( tia de Licurgo ).
Licurgo finalmente veio morar no Rio de Janeiro, e ficou morando por quase 2 anos com a família. Próximo de sua prima Maria José, a quem tanto considerava e estimava, e de sua família, trabalhando e fazendo novos amigos, Licurgo já fazia planos para estudar arte e expor seus trabalhos. Yolanda finalmente apresentou-lhe ao artista plástico Carôllo, e pediu-lhe que intercedesse por Licurgo, impulsionando sua carreira.
Carôllo deu-lhe aulas de pintura, aprimorando suas técnicas, e, sob a supervisão do mestre Carôllo, pintou um lindo quadro, “ o Largo do Boticário “, que participou de uma exposição na Holanda.
Hoje faz parte do acervo particular de Yolanda.
Atendendo a um pedido de Yolanda, Edy Gomes Carôllo, seu cunhado, pediu ao seu amigo, o renomado artista plástico Mazza Francesco, que fazia parte da diretoria da SBBA – SOCIEDADE BRASILEIRA DE BELAS ARTES , que ajudasse Licurgo. Mazza conseguiu-lhe uma bolsa de estudos. Yolanda levou Licurgo à casa do artista Mazza Francesco, para apresentá-los. Licurgo iniciou seu curso, e por mais de dois anos estudou numa das melhores escolas de arte do Rio de Janeiro. Licurgo expunha seus trabalhos na SBBA, e foi aluno do professor Oziel, outro grande expoente da pintura. Paralelamente, continuava seu trabalho na Siemens, e pintava cada vez mais, participando de mostras individuais e coletivas. Suas obras foram expostas em vários estados do Brasil e também no exterior. Sua última exposição no exterior realizou-se em Lisboa, em 25 de outubro de 1996, no Centro Comercial Libersil.
Licurgo mudou-se para a Ilha de Paquetá em 1998, e sua residência, na Rua Tomaz Cerqueira, nº 80, transformou-se no espaço cultural “ LICURGO ARTES VISUAIS “, criado para divulgar trabalhos de artistas e artesãos de Paquetá e de outras localidades. Ele se integrou perfeitamente, e “ pôde achar o seu espaço lutando “, publicou o boletim informativo Licurgo Artes Visuais, com informações obtidas através dos moradores da Ilha de Paquetá. O boletim dizia também: “ Hoje, ele vive de artes, o grande amor de sua vida! Em torno dele, congrega cada vez mais pessoas de sensibilidade e cultura crescentes... em um país onde cultura é ainda um privilégio das elites.” Licurgo Artes Visuais não contava com o apoio cultural de nenhuma entidade, e sim com a ajuda dos visitantes e amigos.
A popular “ VARANDA DAS ARTES” tinha uma excelente aceitação dos visitantes e moradores da Ilha. “ Na verdade, Licurgo não vive das artes, e sim driblando com ARTE os percalços da vida. Criativo, perseverante, ele não recusa trabalho, até mesmo quando lhe é oferecido um pequeno ganho. Ele vive de pintar, ensinar, cantar, criar, plantar, cozinhar... Ele tem sido um guerreiro para sobreviver com dignidade. Do seu exemplo fica bem clara a importância de acreditar na força do trabalho inteligente”, disse sua amiga Mileyde, neste mesmo boletim. Licurgo foi acolhido também pelo Hotel Fragata, em Paquetá, que lhe reservou um espaço para que, todo final de semana, se realizasse a Feira do Cochicho, onde podia se encontrar obras de arte de diversos artistas, roupas antigas e acessórios diversos.
Licurgo faleceu em 28 de julho de 2006, vítima de um ataque cardíaco, no Centro do Rio de Janeiro. Licurgo virou uma estrela no céu de artistas justamente na cidade onde sonhara ser seu lar. Licurgo foi muito feliz no Rio de Janeiro, mas sua felicidade completou-se na Ilha de Paquetá, onde residiu por quase 10 anos. Seu corpo foi levado para lá, onde teve um funeral repleto de amigos, moradores locais e principalmente de sua família, que lhe prestaram homenagens, com orações, leituras, e salva de palmas.
A missa de 7º dia ocorreu na Igreja Bom Jesus do Monte, dia 04/08/2006. Sob forte emoção, todos seus amigos e entes queridos puderam render-lhe as últimas homenagens. Últimas? Jamais, Licurgo! Você será sempre o artista que passou por nossas vidas e ficou, de verdade, dentro de nossos corações! Você deixou conosco sua arte, seu amor retratado em telas, sua sensibilidade, que, com seus olhos de artista pode relatar a vida para nós com seus pincéis da verdade, da angústia, da esperança, da fraternidade... “ Nada morre quando permanece no coração da gente “, e você, Licurgo, permaneceu, você...PERMANECERÁ!!! Vá com Deus, Licurgo, pintar no céu azul o que você pintou tão bonito aqui na terra... E alegrar os anjinhos do Menino Jesus! PALAVRAS DE LICURGO: “ Reflito, em minha arte, o meu conceito do papel que o artista deve desempenhar na sociedade: mostrar toda a realidade nela existente, pois sou como uma espécie de observador. Registro, em minha obra, os acontecimentos da época em que vivo." Em correspondência ao que afirmo, o meu pincel desliza na temática da gente simples, sofrida, e de suas manifestações. “( Licurgo, Salvador, Julho de 1981 ).
ASSISTAM O FILME DE LICURGO NO VIDEOLOG: " A ARTE DE LICURGO":
http://videolog.uol.com.br/video.php?id=382330
CONHEÇAM UM POUCO MAIS DE LICURGO, NO SEU CONVÍVIO EM FAMÍLIA, NO VÍDEO LICURGO NETO – NOITE DE NATAL - 1986
http://videolog.uol.com.br/video.php?id=382057
VEJAM TAMBÉM O VÍDEO LICURGO EM FAMÍLIA, GRAVADO EM 05 DE DEZEMBRO DE 1986.
http://videolog.uol.com.br/video.php?id=382089
Licurgo Neto Pintando - momento de criação do artista, publicado em vídeo raro - FILME
Licurgo Neto, artista plastico, nasceu na Bahia, em 15 de abril de 1949, e vivia na Ilha de Paqueta, Rio de Janeiro.Faleceu em 28 de julho de 2006.
Talentoso artista, de multiplos talentos, na arte de pintar, na dança, na culinária, no artesanato, enfim, artista completo.Assistam seus videos e deixem comentarios!
Visitem também seu site, semanalmente atualizado: www.licurgonetoartistaplastico.com.br e www.licurgonetoplasticartist.com
Vejam os novos álbuns de fotos do artista plástico Licurgo Neto, no orkut e no site: http://licurgonetoartistaplastico.vilabol.uol.com.br.
ResponderExcluirNovo endereço de Licurgo na internet: www.licurgonetoartistaplastico.com.br e www.licurgonetoplasticartist.com
ResponderExcluirVISITEM SEU SITE, DEIXEM COMENTÁRIOS!
OBRIGADA!
DÉBORA MACHADO.
Relmente, meu irmão era uma pessoa maravilhosa.Ele gostava muito das artes em geral e incentivava bastante isto em seu centro cultural. Eu sinto muito a falta dele e acredito que todas as pessoas que o conhecia também.
ResponderExcluirAbraços,
Irá
Eu e Licurgo, trabalhamos na mesma empresa, ele me tinha muito carinho e eu por ele, é com muito pesar que leio, atrasada a noticia de sua precoce partida.Ainda guardo com carinho alguns cartões, e um convite para uma de suas exposições.Ė uma perda lastimável. Saudades .
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